segunda-feira, 22 de agosto de 2011

BOLINHAS, CORES E LUZES...

Quando nos entendemos por gente,
uma das primeiras lembranças que permanece até o fim de nossa existência
são as bolinhas que ganhamos.
A bola é realmente algo fascinante, pois estimula o dinamismo,
além do espírito competitivo, já que precisamos correr para pegá-la.
O ‘dono’ da bola é o que está com ela no momento,
ainda que seja apenas para uma pose de uma foto, que um dia deixará de ser...


Outra lembrança permanente são as cores,
que determinam, no mundo de descobertas infantis,
a importância das coisas.
No mundo ocidental, é comum perceber a tia do Jardim da Infância,
numa pseudo-psicologia respeitada, concluir (categoricamente)
que a criança que desenhou uma piscina
e depois pintou de vermelho ou preto o seu desenho,
demonstra medo, pavor, proibição de tal objeto...
Como se as cores tivessem apenas uma conotação
(determinada pelo homem, diga-se de passagem).

E nesse mundo de pedagogias sobre os elementos da existência,
acabamos esquecendo que as cores desbotam e um dia deixam de ser...

E, por fim, vem à luz a lembrança das luzes das lâmpadas ...rsrsrs...
Brilham mais do que qualquer luz natural, na percepção infantil,
e são enigmáticas, pois que sua origem nasce e morre através de um único clic na insignificante parede de um cômodo.
São contraditórias as luzes,
pois alimentam a segurança da claridade
e o pavor medonho do que não mais enxergamos,
fazendo-nos criar inúmeros fantasmas,
tão incrustados em nossa lembranças genéticas.
E, com o tempo, as luzes todas se embaçam com a idade.
Deixam de ter importância no mundo corrido e, na velhice, ficam fracas até o momento que não as veremos mais. E todas as luzes também se apagam...
São caminhos naturais,
a descoberta da importância necessária desses elementos que tanto embelezam a vida.
Entretanto,    a dor que me impulsiona nesta escrita é perceber que, aos poucos,  fui privado desses elementos tão essenciais ao deleite humano.
O drástico progresso arrebatou de meus sentidos as bolinhas das joaninhas,
as cores das borboletas,
as luzes dos pirilampos...
Onde estão meus amados e necessários insetos, que tanto equilibravam a natureza e meu coração de menino descobridor...
Hoje, diante de asfalto e concreto, não posso ensinar meus netos o prazer de ver e tocar  cada uma dessas adoráveis criaturas.
Apenas através do progresso tecnológico posso mostrar-lhes gélidas fotografias,
com cores vivas de programas computadorizados, tão falsamente consideradas bonitas.
E, no passado presente, caminham as bolinhas, cores e luzes a um futuro tão sem sabor...
Desesperançoso, fico a olhar da vidraça o róseo pôr-do-sol.
Uma nesga de felicidade se confirma em meu peito.
Uma saudosa cigarra se mistura com o gorjear dos pardais, que insistem em louvar o Criador por mais um grande espetáculo que ainda não me foi roubado.

2 comentários:

Anónimo disse...

Adorei!Vou compartilhar no orkut

WILL TOM disse...

Fico feliz que tenha gostado.
Obrigado pela divulgação.
Beijos de luz!