Nos finais dos anos oitentas, conversando com uma amada amiga,
Maria Cristina Bastos de Lima,
percebi quão saudosa se encontrava no momento em que falávamos sobre Campo Grande, bairro suburbano do Rio de Janeiro.
Tão melancólica estava, que acabou sendo inspirada a escrever um belo poema sobre o lugar onde residimos.
Recentemente fui a Jacarepaguá, outro bairro carioca, e, como numa máquina do tempo,
lembrei-me de Campo Grande,
numa retrospectiva de quarenta anos até os dias atuais.
Senti o mesmo que a minha amiga sentiu naquele dia...
Saudade, melancolia, e, acima de tudo, desesperança...
As ruas de Jacarepaguá, principalmente, na Taquara, são tão arborizadas,
que o ar é cheiroso, apesar do trânsito intenso,
com canos de descarga poluindo o ambiente.
Campo Grande quase não tem mais árvores, no centro de sua estrutura de vida.
Por causa do progresso, arrancaram, impiedosamente,
as árvores, restando apenas asfalto e calçadas.
E, consequentemente, um bairro com temperaturas mais elevadas.
Na antiga ‘alameda’ da Estrada das Capoeiras, hoje, contamos nos dedos as árvores que ainda resistem.
Os bambuzais da Estrada da Cachamorra foram-se, num vento de memórias.
Os ipês de cores variadas, da Estrada da Posse e da Estrada do Mendanha, partiram, numa tela desbotada pelo tempo.
A paisagem é cinza e torridamente gelada.
Lembrei-me das palmeiras imperiais, principalmente, as que ornamentavam a praça da Igreja Nossa Senhora do Desterro... Hoje, só nas lembranças...
Ao passar na Avenida Cesário de Melo e me deparar com o antigo chafariz, hoje seco,
hoje secado pelo descaso do Poder Público,
meus olhos marejaram.
Quisera que uma única lágrima preenchesse novamente de água, de verde, de vida
e de felicidade meu amado Campo Grande.
Quisera que, ao menos, uma lágrima comovesse um desses ‘poderosos’, que,
apesar de estarem em cadeiras de responsabilidade política,
permanecem com o propósito vergonhoso de enriquecimento ilícito,
prevaricando o que conquistaram pela inocência de outrem.
Mas nessa seca toda, meu coração se faz em terra rachada e ressequida.
E como o retirante, agradeço a D-us, por poder, ao menos,
ainda ver o monumento do chafariz na praça.
Entretanto, rapidamente, seco minha lágrimas,
antes que percebam o valor de determinadas coisas do povo
e as subtraiam também,
fazendo-nos encontrar nossos humildes monumentos nas fotos de revistas,
que, impiedosamente, divulgam as mansões dos ‘bacanas’, como é tão comum.
E assim, seguimos secados como Campo Grande, extenuados num vale que já foi mais verde e úmido, tal qual nossas aspirações.